Segundo aniversário da Associação Cabra Cega

A Associação Cabra Cega fez, no passado dia 18 de Maio, dois anos da sua constituição, tendo comemorado no sábado 19 esta efeméride com uma actividade, para além de cultural e gastronómica, social e de inclusão.

Foi um dia em que, com a preciosa parceria do Município de Sobral de Monte Agraço, através do seu Centro de Interpretação das Linhas de Torres (CILT) e da Vitiscape, pudemos proporcionar agradáveis momentos a quem se quis juntar a nós.


Para quem veio de Lisboa, o dia começou com a concentração no Campo Grande, onde os aguardava o transporte que a Associação disponibilizou para a vinda ao Sobral de Monte Agraço. Já no Sobral, nas instalações do CILT, foram dadas as boas vindas a todos e distribuídas algumas lembranças da Associação – lenços e t-shirts, gentilmente cedidas pelo nosso mais recente parceiro - a Cottlana.


Pelo Presidente da Cabra Cega - Pedro Nogueira – foram lançados dois desafios: o de vestirem a camisola da Associação, juntando-se à nossa causa, e de levarem consigo um lenço estampado com a marca da Cabra Cega, para desafiarem outras pessoas a entrar neste jogo da sensibilização e da inclusão. É muito fácil jogar à Cabra Cega quando sabemos que podemos retirar a venda e ver, mas… e aqueles que vivem neste jogo permanentemente?


O Sr. Presidente da Câmara – o Sr. Eng.º José Alberto Quintino - e a Sr.ª Secretária de Estado da Segurança Social – a Exma. Sra. Dr.ª Cláudia Joaquim, bem como o seu Chefe de Gabinete – o Sr. Dr. Carlos Pinto, foram dos primeiros a aceitar os desafios, agradecendo o convite que lhes foi endereçado e salientando a importância que a Cabra Cega e instituições congéneres têm no apoio de proximidade à sociedade civil, em especial às pessoas com deficiência. Pela Sra. Secretária de Estado foi ainda referido o papel relevante da Cabra Cega no quesito da acessibilidade do portal da Segurança Social Direta, por via das exposições que tem apresentado junto do Gabinete.


Não poderíamos deixar de mencionar a nossa parceira inicial, que também se fez representar por vários elementos, e, mesmo sem as lembranças materiais, já vestem a nossa camisola e jogam connosco há dois anos. Referimo-nos, claro está, à Voa – inclusão para a deficiência, uma Associação também do Sobral de Monte Agraço.


E a manhã foi ocupada com uma visita explicativa do CILT, guiada pela Sandra Oliveira e a Susana Teixeira. Uma visita cultural onde fomos conhecendo melhor a história das invasões francesas e a importância das Linhas de Torres na vitória do exército Luso-Britânico sobre os invasores. Mais do que uma visita explicativa e cultural, foi, podemos afirmar, uma visita inclusiva e acessível, já que os participantes cegos e surdocegos puderam tatear alguns objectos da época que normalmente estão resguardados para sua preservação, como sendo documentos escritos da época, pistolas, espingardas, sabres e balas de canhão encontradas durante as escavações arqueológicas efectuadas no Forte que mais tarde visitámos.


Pudemos também ouvir áudio-descrições de documentos da época e uma descrição dos painéis expostos no Centro.


Ainda no decorrer da visita ao CILT, puderam as pessoas com deficiência tocar nos manequins existentes para perceberem, por si próprios, como eram as fardas dos militares da altura, assim como tatear uma réplica de um canhão, para compreenderem as dimensões dos mesmos, e uma maquete representativa do Forte do Alqueidão (a visita que se seguia neste dia de actividades), de modo a terem noção espacial do mesmo.


Já no Forte, e de uma forma muito breve devido ao calor abrasador que se fazia sentir, foram descritas as paisagens envolventes, salientando o relevo decisivo para a construção do Forte e para o sucesso das batalhas travadas, e os pontos turísticos de interesse que dali se avistam, nomeadamente, o Palácio da Pena, em Sintra; o Castelo de Palmela; o rio Tejo, na zona de Alverca e Alhandra; as pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, bem como o Cristo Rei; as serras do Montejunto e do Socorro, e ainda os vários fortes circundantes e o oceano na zona de Santa Cruz e Peniche, podendo, em dias muito próprios, avistar-se dali as Berlengas.


Outra curiosidade do Forte e do Concelho é a existência de alguns aerogeradores que dali se conseguem ver, e as pessoas com deficiência puderam perceber, pelo barulho gerado com o rodar das pás, que o vento vai empurrando. E foram estes aerogeradores que um dia tornaram o Sobral como o primeiro concelho do país auto-sustentado, em termos energéticos, com recurso a energias renováveis.


Após as explicações, os participantes cegos (e não só) puderam ainda tatear algumas ruínas existentes no Forte, à medida que iam sendo visitadas e explicadas, entre elas a Casa do Governador e os diferentes paióis e canhoneiras.


Aproveitamos para aqui deixar a informação de que o CILT disponibiliza áudio-guias para quem quiser fazer a visita ao Forte de forma autónoma, pois todos os pontos estão marcados de modo a permitir o seu uso.


E o dia de festa prosseguiu com uma excelente refeição e convívio à volta da mesa do restaurante típico “Pôr do Sol”, onde as conversas foram muito diversificadas.


No período da tarde, visitámos a Quinta da Folgorosa, uma quinta com mais de 200 anos onde pudemos ir à vinha perceber, com as próprias mãos, como eram as videiras e como os agrónomos identificam as várias plantas e castas de uva. Aprendemos também como são feitas as podas das videiras, e percebemos a inclinação dos terrenos tão característicos da zona, tal como a brisa marítima a que estão constantemente sujeitas e que tanto contribui para a frescura dos vinhos.


Já na Adega, o Eng.º José Melícias, da Vitiscape, na companhia da sua ajudante Bruna, explicou o processo de selecção das castas e do fabrico dos vinhos. Pudemos também tatear alguns objectos, tais como lagares, depósitos de betão, cubas de Inox e barricas de madeira de carvalho francês, que, de resto, serviram de bancada para pousar os pratos com as iguarias que foram servidas para serem saboreadas e irem contrastando com os sabores dos vários vinhos que fomos provando, sob a orientação do Sr. Eng.º, e dos copos, sempre diferentes, para cada vinho servido, de modo a não misturar os sabores.


Cumpre-nos ainda destacar um pormenor desta visita, que foi o enorme cuidado mostrado pela Vitiscape no quesito da inclusão e da acessibilidade, usando copos sem pé para ser mais fácil o seu uso e evitar tombos, assim como a permissão para mexer nos vários objectos, de modo a facilitar a percepção do que era explicado. Esta cortesia é fruto do investimento na formação dos elementos da Vitiscape, através da participação no projeto Brendait – turismo para todos, que visa, precisamente, a formação em atendimento e recepção de pessoas com deficiência e na acessibilidade.


Para finalizar este dia em grande, e como não poderia deixar de ser, soprámos as velas de um bom bolo de chocolate e, com um dos melhores vinhos, brindámos à Cabra Cega, às suas causas e aos amigos que quiseram ou puderam estar connosco.


Aos nossos Parceiros e Associados, o nosso muito obrigado por acreditarem e apoiarem esta causa e, a todos quantos estiveram connosco, obrigado pela vossa presença!


Enquanto Presidente desta Associação, renovo os votos de Parabéns à Cabra Cega e a todos os que têm contribuído para a sua causa, afirmando que continuaremos a dar às pessoas com deficiência visual a oportunidade de sermos vistos!


logotipo associação cabra cega

Sabemos que não podemos fazer com que as pessoas com deficiência visual vejam, mas podemos dar a oportunidade para serem vistas pela sociedade enquanto seres humanos com capacidades e os mesmos direitos e deveres de qualquer outro.

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